sábado, 25 de junho de 2011

Ciúme destruidor


A vida de Ana se tornara muito ruim, desde o momento em que começou a desconfiar que Artur, seu marido, tinha outra mulher.
Ana olhava para ele e se sentia traída. Toda vez que Artur chegava atrasado do trabalho, mesmo que dissesse que fora o trânsito complicado ou uma reunião de última hora, ela pensava: Demorou por causa da outra. Devem ter se encontrado hoje. Por isso se atrasou.
A paz do lar ficou comprometida. Ele chegava cansado, ela estava mal-humorada e procurava todos os motivos para reclamar.
Por vezes, ela surpreendia Artur dispersivo. O pensamento distante. Era o suficiente para pensar consigo mesma: Olhe só como está pensativo! Aposto que está pensando nela.
Finalmente, um dia, ela resolveu seguir o marido para o surpreender.
Esperou-o na saída do trabalho. Ele pegou o carro, andou algumas quadras e parou na floricultura. Ela viu quando ele escolheu as maravilhosas flores e saiu carregando-as com carinho.
Mau caráter, pensou ela. Gastando com outra.
Aquilo a deixou de tal forma desconcertada, que começou a chorar. Foi para casa e se jogou na cama. Chorou muito.
Pouco depois, ela ouviu a porta abrir e seu marido chegar. Escutou os passos dele na escada, subindo até o quarto do casal, onde ela estava.
Mal o viu adentrar o quarto, ela se sentou na cama, os olhos vermelhos de chorar, os cabelos em desalinho e desabafou:
Eu vi tudo. Você não pode negar. Comprou flores para ela. Rosas vermelhas maravilhosas. Você me traiu. Traiu o nosso amor.
Alterada, ela se levantou e avançou na direção dele. Para sua surpresa, verificou que ele trazia nas mãos o lindo ramalhete de rosas vermelhas.
Um pouco chateado, estendendo o ramalhete para ela, ele falou:
Ana, hoje é dia do nosso aniversário de casamento. Você não lembrou?
*   *   *
O ciúme cria quadros exagerados, fomentando desconfiança. Atestado de insegurança, destrói o relacionamento pelo clima de tensão que cria a todo momento.
Cultivador da infelicidade, o ciúme altera a correta visão dos fatos, aumentando a importância de pequenos atrasos, desejos não atendidos, esquecimentos de datas e compromissos a dois.
Criando azedume, envenena a alma e desassossega o pensamento.
Colocando óculos escuros na visão mental, tudo faz parecer escuro, sombrio, devastador.
Uma distração é tida à conta de desinteresse. O atraso para um encontro é considerado desrespeito.
Fora da realidade sempre, o ciúme provoca cenas desastrosas e desgastantes, em situações onde uma leve indagação ou uma conversa a dois, com toda a certeza, resolveria.
*   *   *
Nunca deixemos que o ciúme nos atormente. Ele é o responsável pela devastação de corações e de lares.
Se nos sentimos inseguros, fortifiquemos a relação a dois com diálogos mais profundos, com saídas para um passeio ao luar ou um final de semana a sós.
Se o outro estiver, verdadeiramente, permitindo que a relação esfrie, que o amor amorne, providenciemos o melhor para o estreitamento dos laços afetivos, guardando a certeza de que é nos pequenos gestos que a relação se torna mais forte, mais firme.

sábado, 18 de junho de 2011

Conclusões equivocadas


Eram dois vizinhos que mantinham um bom relacionamento de amizade.
Um deles comprou um coelho para os filhos. Logo, os filhos do outro vizinho também desejaram um animal de estimação.
O pai lhes comprou um filhote de pastor alemão.
A preocupação teve início. O dono do coelho achou que o cão poderia comer o seu animalzinho.
O outro acreditava na boa índole e afirmou que o pastor era filhote. Bastaria que os animais fossem colocados juntos, aprendessem a conviver desde cedo e tudo daria certo.
Eles seriam amigos. E por um tempo foi assim. Juntos cresceram e se tornaram amigos.
Era comum ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa.
As crianças, felizes, com os dois animais.
Certa sexta-feira, o dono do coelho resolveu viajar com a família. O animal ficou sozinho.
No domingo à tarde, o dono do cachorro com sua família tomava um lanche quando, de repente, entra o pastor alemão com o coelho entre os dentes.
O pobre animal estava imundo, sujo de terra, morto.
Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo. Deram-lhe uma grande surra.
Depois, veio o dilema: “o que fazer, agora? Afinal, o vizinho estava certo. O cão mataria o coelho.”
Os donos do animal morto logo chegariam. O que fazer? Como consertar o estrago?
Enquanto isso, lá fora, o cachorro chorava, lambendo os seus ferimentos.
A grande dificuldade era como explicar para os filhos do vizinho o que acontecera com seu amado animalzinho.
Então surgiu a de lavar o coelho, deixá-lo limpinho, secá-lo com o secador, arrumar bem o pelo e o colocar em sua casinha.
Assim pensaram. Assim fizeram. Até perfume colocaram nele.
Ao final, as próprias crianças disseram: “Parece vivo! Ficou lindo.”
Pouco depois, ouvem a algazarra da família ao lado chegando. As crianças gritam.
O coração dos donos do cão batia forte e eles pensaram: pronto! Descobriram!
Passados alguns minutos, o dono do coelho bate na porta, assustado. Parecia ter visto um fantasma.
“O que foi?” Perguntam.
“O coelho, o coelho... morreu!” Diz aquele.
“Morreu?” – inocentemente fala o pai da família dona do cão. “parecia tão bem hoje à tarde.”
“Morreu na sexta-feira!” – exclama o outro.
“Na sexta?”
“Foi. Antes de viajarmos, as crianças o enterraram no fundo do quintal. Imagine que agora está lá na casinha, limpo, branquinho, reapareceu!”
A história termina aqui. Não importa o que aconteceu depois. O que merece ser examinada é a situação do pobre cachorro.
O pobrezinho, desde a sexta-feira, quando sentiu falta do amigo, começou a farejar.
Finalmente, descobriu o corpo morto e enterrado. Com o coração partido, ele desenterrou o amigo de infância e foi mostrar aos seus donos.
Talvez esperasse que eles o pudessem ressuscitar. E o que acontece? Pancadas e mais pancadas. Simplesmente porque expressava a sua preocupação com um amigo.
Quase sempre procedemos assim em nossos relacionamentos. Julgamos os outros, sem antes verificar o que aconteceu de fato.
É suficiente que suspeitas sejam levantadas contra alguém, e estamos prontos a nos afastar da pessoa. E até a comentar, continuar divulgando os fatos ouvidos.
Tudo sem antes verificar se os fatos são verdadeiros, sem ir indagar daquele de quem se fala, o que, de verdade, está acontecendo.
E assim velhas amizades são destruídas. Reputações são manchadas.
Pessoas nobres recebem ingratidão. Tudo porque, quase sempre, tiramos conclusões precipitadas das situações e nos achamos donos da verdade.
Pensemos nisso!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Chaga da Humanidade


Conta-se que, certa vez, um adestrado catador de caranguejos executava sua tarefa num mangue, quando alguns turistas pararam para observar o seu trabalho.
Era um esforço grande que realizava o homem, todo enlameado. O que perceberam os observadores é que o catador tinha dois baldes. Um com tampa e outro sem tampa.
A cada caranguejo que pegava em suas mãos, examinava e concluía: este é bom, e colocava no balde com tampa. Ou, este é ruim, e colocava no balde sem tampa.
Depois de um determinado período, um dos turistas não aguentou a curiosidade e perguntou ao catador de caranguejos por que ele realizava aquela divisão em baldes diferentes, algo que absolutamente ele não conseguia entender.
O trabalhador não se fez de rogado e foi explicando: É simples, muito simples. Coloco no balde com tampa os caranguejos bons, para eles não fugirem, pois eles têm condições de retornar ao seu local de origem, seu próprio mundo.
Mas os caranguejos ruins não precisam de tampa. São uns egoístas. Quando um deles tenta fugir, sair do balde, os outros se agarram nele e o puxam para baixo. Por isso, com eles não preciso me preocupar.
*    *    *
Por vezes, em nossas ações, nos comportamos de forma semelhante aos pequenos animais da história. É quando nos deixamos dominar pelo egoísmo, essa chaga da humanidade, que deve desaparecer da Terra, pois que compromete o progresso.
O egoísmo é filho do orgulho e é causador de muitos males. É a negação da caridade e somente tem contribuído para tornar os homens infelizes.
Graças ao egoísmo, o homem tem vivido muito mais para sua própria satisfação do que para o interesse dos demais.
Nas relações conjugais, mais de uma vez surgem questiúnculas porque cada um deseja que o outro ceda, renuncie em seu favor.
Por egoísmo, a esposa não permite ao marido a continuidade de estudos avançados que lhe exigiriam algumas horas a mais, fora do lar, por determinado período.
Por egoísmo, o marido cria obstáculos a voos mais altos da esposa, pois a deseja para si em todos os momentos.
Em nome do egoísmo, irmãos entram em disputas judiciais pela posse de bens perecíveis, destruindo-se mutuamente e infelicitando os pais desencarnados.
Por egoísmo, obras de arte permanecem ocultas a muitos olhos, segregadas em salas fechadas e exclusivas.
Por egoísmo, nos fechamos, impedindo-nos de progredir. Por causa dele, erguemos altos muros ao nosso redor.
Cerramos as portas do coração e as janelas da alma, não desejando que outros desfrutem da beleza dos nossos jardins ou das riquezas de nossa intimidade.
*   *    *
Quando os ventos do egoísmo soprarem débeis ou fortes nas veredas das nossas vidas, preservemo-nos da sua ação destruidora, recordando que efêmera é a passagem pela Terra.
Que os únicos bens que realmente nos beneficiarão são os do Espírito, frutos da ação generosa, da divisão e distribuição, do que temos à farta: bens materiais, inteligência, tempo, amor.

Casas mortas, casas vivas


Sua casa é viva ou morta? A pergunta soa estranha, com certeza. E você logo responderá que casa é algo inanimado.
A casa é feita de pedras, tijolos, madeira, portanto, não tem vida.
Entretanto, casas existem que são mortas. Você as adentra e sente em todos os cômodos a inexistência de vida. Sim, dentro delas habitam pessoas, famílias inteiras.
Mas são aquelas casas em que quase tudo é proibido. Tudo tem que estar tão arrumado, ajeitado, sempre, que não se pode sentar no sofá porque se está arriscando sujar o revestimento novo e caro.
Casas em que o quarto das crianças é impecável. Todos os bichinhos de pelúcia, por ordem de cor e tamanho, repousam nas prateleiras.
Essas casas são frias. Pequenas ou imensas, carecem do calor da descontração, da luz da liberdade e da iluminada possibilidade de dentro delas se respirar, cantar, viver.
Por isso mesmo parecem mortas.
As casas vivas já demonstram, desde o jardim, que nelas existe vibração e alegria.
No gramado, a bola quieta fala da existência de muitos folguedos. A bicicleta, meio deitada, perto da garagem, diz que pernas infantis até há pouco a movimentaram com vigor.
Em todos os cômodos se reflete a vida. No sofá, um ursinho de pelúcia denuncia a presença de um pequenino irrequieto que carrega a sua preciosidade por todos os cantos.
Na saleta, livros, cadernos e lápis dizem dos estudos que se repetem durante horas. O dicionário aberto, um marcador de páginas assinalando uma mensagem preciosa falam de pesquisa e leitura atenciosa.
A cozinha exala a mensagem de que ali, a qualquer momento, pode chegar alguém e se servir de um copo d'água, um café, um pedaço de pão.
Os quartos traduzem a presença dos moradores. Cores alegres nas cortinas, janelas abertas para que o sol entre em abundância.
Os travesseiros um pouco desajeitados deixam notar que as crianças os jogam, vez ou outra, umas contra as outras, em alegres brincadeiras.
Enfim, as casas vivas são aquelas em que as pessoas podem viver com liberdade. O que não quer dizer com desordem.
As casas vivas são aquelas nas quais os seus moradores já descobriram que elas foram feitas para morar, mas sobretudo para se viver.
*    *    *
O desapego às coisas terrenas inicia nas pequeninas coisas. Se estabelecemos, em nosso lar, rígidas regras de comportamento para que tudo esteja sempre impecável, como se pessoas ali não vivessem, estamos demonstrando que o mais importante são as coisas, não as pessoas.
Manter o asseio, a ordem é correto. Escravizar-se a detalhes, temer por estragos significa exagerado apego a coisas que, em última análise, somente existem em função das pessoas.
Transforme sua casa, pequena, de madeira, uma mansão, num lugar agradável de se retornar, de se viver, de se conviver com a família, os amigos, os amores.
Coloque sinais de vida em todos os aposentos. Disponha flores nas janelas para que quem passe, possa dizer: Esta é uma casa viva. É um lar.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA


Uma cascata fluindo branca, como uma cortina rendada; um céu repleto de estrelas, o cheiro da terra molhada após a primeira chuva, gotas que brilham em pétalas.
A natureza é um espetáculo para se contemplar em silêncio respeitoso, com o coração em prece.
Deus se mostra, majestoso, nas Suas obras monumentais.
A arte, o belo, o refinamento, a exatidão. Tudo é visível na natureza.
Por isso, um dos maiores filósofos da Terra, grafou palavras que resumem de forma completa o que representa a natureza para o homem habituado a pensar em Deus.
É de Immanuel Kant esta bela frase: “Duas coisas enchem minha alma de admiração e respeito: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”.
E diante desse espetáculo de formas, cores e perfumes, o que fazemos nós, os seres humanos?
Poluímos, matamos, utilizamos sem cuidado. Somente a poucos anos a Humanidade passou a observar que o nosso Mundo está maltratado.
A palavra Ecologia então entrou na moda, ganhou o Mundo, tornou-se sinônimo de consciência ética. Mas muitos de nós ainda estão distantes do sentimento de reverência que a obra divina deveria merecer de todos.
Florestas devastadas, rios transformados em canais pútridos, animais torturados e vendidos como mercadoria barata.
Isso nos mostra o quanto ainda estamos distanciados do ideal de amor e respeito que a obra de Deus merece.
A casa planetária – saqueada, poluída, agredida – geme sob o domínio humano. E os resultados começam a surgir, preocupantes: aquecimento global, doenças, morte de espécies.
Eis que o produto de nosso descaso se volta contra nós. Furacões, tsunamis, tufões.
Quando ocorrem as grandes tragédias, decorrentes de fenômenos naturais, o homem é a primeira vítima.
E mesmo assim, resiste em continuar cego para os sinais de que algo está profundamente errado na forma como nos relacionamos com a natureza.
Como reverter esse quadro? Como restaurar o equilíbrio?
A resposta está na palavra educação.
Essa arte de educar os caracteres é a chave para que as futuras gerações tenham uma visão mais larga sobre o papel do ser humano, como agente causador da destruição do planeta em que vivemos.
Aos homens do futuro – que hoje são crianças e adolescentes – nos cabe oferecer uma consciência mais apurada e uma noção mais plena sobre preservação do meio ambiente.
Mas... como fazer isso?
Educando-os desde hoje. Uma educação que vai além da escola formal. A educação do Espírito, que consiste em implantar novos conceitos ético-morais no indivíduo.
A educação do Espírito é completa. Não apenas o informa sobre as regras de gramática e as normas da geometria.
Fala ao homem sobre seu papel no Mundo. Educa-o para a convivência fraternal com todos os seres – humanos, animais e vegetais.
E prepara-o para cuidar do lugar que vive.
No dia-a-dia, essa educação se mostra no combate aos desperdícios de toda espécie, na economia dos recursos naturais, no respeito integral a toda forma de vida.
Um exemplo dessa consciência superior pode ser encontrado em Francisco de Assis, que amava a obra divina a tal ponto que chamava de irmãos ao sol, à lua, ao vento, à água e às estrelas.
Quem de nós poderia traduzir melhor o amor do que abraçando a natureza com palavras de amor?