quarta-feira, 14 de setembro de 2011

EU, O CACHORRO E O MENINO


E eu só reclamava da vida...
Reclamava da noite porque   eu não dormia,
Reclamava do dia porque eu sofria,
Reclamava do frio que me gelava a alma,
Reclamava do calor que me atirava ao desânimo.
Para tudo e para todos eu tinha uma resposta, para a minha derrota eu sempre tinha um culpado,
para o meu desamor sempre tinha um "alguém", para tudo uma reclamação,  eu era o próprio azedume
Ai de quem me criticasse, que apontasse o erro que eu não enxergava, para tudo tinha que haver  um culpado,
eu era a vítima do sistema, das pessoas, do mundo, eu sempre fui traído, enganado, sofrido...
Carregava aquela cruz pesada  de ódio,  e eu só reclamava da vida,  seja de noite, seja de dia.
Até quem um dia, um menino, desses meninos de rua,  me pediu uma ajuda, e eu já estava pronto para ofendê-lo,
quando ele pegou na minha mão e arrastou-me,  se é que um menino tão pequeno teria essa força.
No canto da rua ele me mostrou um cachorro muito sujo,  que estava com a pata como que quebrada e cheio de feridas.
O menino puxou a minha mão e fez chegar perto do cachorro. Ele olhava pra mim e depois para o cachorro,  e falou numa voz que eu não consigo esquecer: - Moço, sara ele pra mim!   É  o meu melhor amigo.
Não sei porque e nem quero saber,  mas eu não agüentei e chorei...
Chorei como criança, como quem abre uma torneira,  como se uma porta que estava
fechada  há muito tempo dentro de mim,  se abrisse escancaradamente...
O menino não entendeu o meu choro e perguntou:  - Ele vai morrer moço?  É grave assim...
Despertei do meu choro e agarrei aquele cachorro com muito cuidado.
Levei-o até a minha casa, poucos quarteirões dali,  e tratei daquele cachorro como se fosse um filho,
e  o menino, que vivia pelas ruas,
 foi ficando, e cuidou de mim,  curou minhas feridas,
antes mesmo de eu curar as feridas do cachorro.
Hoje, não reclamo mais de nada,  tudo para mim tem um sentido, tudo é perfeito, até o que dá errado.
E esse menino, que hoje me chama de pai, destranca portas e janelas da minha alma todos os dias,
quando segura na minha mão e me agradece por cada coisa tão pequena,
os banhos, as roupas, a comida, a escola, a adoção, coisas que muita gente tem e não dá nenhum valor, ele me recompensa com carinho e   dedicação.

Hoje é a sua formatura, e eu nem  sei o que dizer,  sou grato a Deus por ele entrar  na minha vida,
por quebrantar meu coração,  e não largar mais a minha mão.
Hoje eu bendigo a vida.
Valorize a sua vida, preencha-a com o amor.
                                                                                  Texto de Paulo Roberto Gaefke

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