domingo, 30 de outubro de 2011

MOMENTO GLORIOSO DO NOBEL


“As mulheres precisam ter as mesmas oportunidades que os homens para influenciar nos acontecimentos.” (Thorbjoern Jagland, do Comitê de premiação do Nobel)
A grande maioria dos viventes deste conturbado planeta azul não saberá por certo explicar, assim à queima roupa, onde estão localizados no mapa o Iêmen e a Libéria. Alguém menos desinformado poderá, talvez, dizer que são integrantes de um grupo de países em que a pobreza crônica da população atinge as raias da calamidade. Com estruturas políticas e administrativas esfaceladas, vêem-se sacudidos permanentemente por traumáticos conflitos e submetidos a rígidas e arcaicas normas de convivência social, nascidas de um caldo de cultura política e religiosa, pode-se afirmar, primitivo.

Pois foi justamente desses dois países esquecidos, longínquos e inacessíveis nas dobras geográficas, marcados por inimagináveis desventuras sociais, que emergiram neste ano da graça de 2011 os ganhadores do Premio Nobel da Paz. Melhor afirmando, as ganhadoras da mais cobiçada láurea instituída com o objetivo de galardoar o mérito de homens e mulheres comprometidos com a causa da construção humana.

A presidente liberiana, Ellen Johnson Sirleaf, sua compatriota e militante pela Paz, Leymah Gbowee, e a ienemita Tawakkul Karman, líder ativista do movimento conhecido por “Primavera árabe” - movimento esse que vem emitindo inquietantes sinais de enfraquecimento no próprio Iêmen, à conta de manobras diplomáticas de bastidores – foram as Mulheres escolhidas. A premiação recompensou-as por sua luta pacífica e heróica pela segurança das mulheres e de seus direitos de participação nos processos voltados para o bem estar social, conforme assinalou o Comitê Nobel norueguês, responsável pelas indicações.

O presidente do Comitê, Thorbjoen Jagland, na ocasião do anúncio das ganhadoras do Premio Nobel da Paz, deixou expresso, por sinal, um conceito muito pertinente sobre o papel da Mulher no mundo contemporâneo. Disse o seguinte: “Não podemos jamais alcançar a democracia e a paz duradoura no mundo se as mulheres não obtiverem as mesmas oportunidades que os homens para influenciar nos acontecimentos em todos os níveis da sociedade.”

A liberiana Ellen, contando hoje 72 anos, ganhou um lugar na história ao se tornar, em 2005, a primeira mulher eleita como chefe de Estado no continente africano, em um país de quatro milhões de habitantes traumatizados por guerras civis que, ao longo de várias décadas, deixaram 250 mil mortos, destruíram as já precárias infraestruturas de serviços básicos e arrasaram a economia. A partir da posse trabalhou incansavelmente para garantir a paz no país, retomar os caminhos do desenvolvimento econômico e social e promover a ascensão da mulher no meio comunitário, em sucessivas e corajosas tentativas de desfazer seculares laços de servidão machista. Seu acesso à liderança política foi bastante favorecido pela ação destemida da outra liberiana agraciada.

Com efeito, Leymak, conhecida por “Guerreira da Paz”, notabilizou-se por chefiar um movimento pacífico de Mulheres que eletrizou a nação. Convocou uma “greve de sexo”, numa arregimentação de consciências jamais vista no país, que levou liberianas de todas as confissões religiosas, além das linhas de divisão étnica, a negarem sexo aos homens até que cessassem os combates da interminável guerra civil que devastava a nação. Os “senhores da guerra”, abalados com a insólita e bem sucedida iniciativa, não só apressaram as negociações para por fim ao sangrento conflito, como associaram as lideranças femininas às negociações de paz e garantiram, a partir dali, a participação das mulheres nas eleições, o que acabou conduzindo, depois, Eller Johnson Sirleaf à Presidência.

A ienemita Tawakkul Karman, primeira mulher árabe homenageada com o Nobel, ignorava, até ser surpreendida com o anúncio da premiação, tivesse tido o nome lançado para receber a láurea. “Este premio – asseverou – é dedicado a todos os ativistas da Primavera Árabe. “Trata-se de uma honra para todos os árabes, muçulmanos e mulheres”, acrescentou, lembrando as lutas difíceis enfrentadas, tanto antes como durante a chamada “Primavera Árabe”, que lhe valeram até prisão, em favor dos direitos das mulheres, da democracia e da paz.

A escolha deste ano, conhecidas as edificantes trajetórias de vida das três mulheres africanas contempladas, bem provavelmente permitirá ao Premio Nobel da Paz atingir seu momento mais glorioso na simpatia da opinião pública mundial.

***
Texto do jornalista Cesar Vanucci

Nenhum comentário:

Postar um comentário